Trânsito violento, receio de assaltos e falta de ciclovias impedem que o uso de um meio alternativo de transporte, as bicicletas, se expanda pelas ruas e avenidas de Porto Alegre. A constatação está em um estudo feito com 1.136 acadêmicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Apesquisa que escancara os obstáculos para se reduzir o predomínio dos veículos automotores na Capital integra o trabalho de conclusão do aluno de Administração Luiz Augusto Silveira Ritta, 25 anos. Usuário de bicicleta durante um estágio de um ano em Budapeste (Hungria), em 2010, mas não-ciclista no Brasil, Ritta ficou intrigado com o seu próprio paradoxo. Incentivado pela orientadora, a professora Marcia Dutra de Barcellos, ele enveredou por um assunto com bibliografia quase desértica. Construiu sua pesquisa no meio do debate na cidade sobre a instalação de sua incipiente rede de ciclovias, a previsão de se contar com bicicletários e aluguel de bicicletas públicas. - Eu achei que haveria uma aversão maior ao uso de bicicleta. A maioria estaria disposta a usar bicicleta se o trânsito fosse menos perigoso e se houvesse mais ciclovias - afirmou. Para Marcia, o trabalho do seu orientando tem o papel de servir como incentivo para que outros estudantes busquem temas em voga e possa contribuir para conscientizar os governantes e a própria sociedade. Ao avaliar a pesquisa ontem, o estudante avançou na análise sobre soluções para o problema, pinceladas em seu texto acadêmico: - Nas campanhas, parece que falta uma abordagem para persuadir as pessoas a utilizar e respeitar a bicicleta. Falta, ainda, segundo a especialista, uma personalidade para dar esse endosso. Porto Alegre conta, hoje, com 10 quilômetros de ciclovias e ciclofaixa. O Plano Diretor Cicloviário de 2009 prevê uma rede de 495 quilômetros de vias para bicicletas. Ainda longe desse objetivo, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) tem seis projetos de ciclovias a caminho. Além da infraestrutura, porém, será preciso investir em uma mudança de mentalidade, observa o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari. - Porto Alegre não tinha um projeto cicloviário. Bicicleta foi sempre um meio de lazer. Mas não se muda a mentalidade de anos e anos em que o carro é uma exclusividade de uma hora para outra. Os motoristas reclamam da carroça, do pedestre, da bicicleta - argumenta. Satisfeito com a repercussão e por colaborar com o debate sobre a ampliação da rede de ciclovia da Capital, Ritta ganhou nota máxima no trabalho de conclusão e se forma hoje na UFRGS.
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